domingo, 6 de dezembro de 2009

Recado para a Lassuta

À minha querida Isabel:

(minha amiga, minha inspiração, meu mestre)

Aguardo-te para um passeio junto ao rio.

(quero ver-te sorrir como uma menina inocente, quero voltar a ver a Arte pelos teus olhos)

Aguardo-te para um passeio junto ao rio.

(Tenho dois copos de vinho sobre a mesa,quero bebê-lo contigo, quero brindar a vida contigo)

Aguardo-te para um passeio junto ao rio.

letting go...

"To change skins, evolve into new cycles, I feel one has to learn to discard. If one changes internally, one should not continue to live with the same objects. They reflect one's mind and the psyche of yesterday."
Anais Nin
Às vezes muda-se-nos a pele. Começa um novo ciclo, deixa-se um pensamento, muda-se um sentimento ou troca-se a frequência da alma. Este é, quase sempre, um processo doloroso, uma vez que envolve rupturas com coisas e pessoas de quem gostamos e nos obriga a enfrentar o desconhecido. Umas vezes deixamos lugares, outras vezes pessoas, outras vezes temos mesmo que abdicar de coisas mais profundas, parte de tecido interno que já não somos nós. Seja o que for, é necessário soltar, deixar partir, saber aceitar fazendo as pazes connosco e com os outros. Há que desligar do passado e deixar que o presente nos inunde até que outra pele nos cubra.

Stuck?

Que havia, pois, mais para a vida, para responder ao seu desafio de milagre e de vazio, do que vivê-la no imediato, na execução absoluta do seu apelo? Eliminar o desejo dos outros para exaltar o nosso. Queimar no dia-a-dia os restos de ontem. Ser só abertura para amanhã. A vida real não eram as leis dos outros e a sua sanção e o seu teimoso estabelecimento de uma comunidade para o furor de uma plenitude solitária. O absoluto da vida, a resposta fechada para o seu fechado desafio só podia revelar-se e executar-se na união total com nós mesmos, com as forças derradeiras que nos trazem de pé e são nós e exigem realizar-se até ao esgotamento. Este «eu» solitário que achamos nos instantes de solidão final, se ninguém o pode conhecer, como pode alguém julgá-lo? E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos à prisão? Sabê-lo é afirmá-lo! Reconhecê-lo é dar-lhe razão. Que ignore isso o que ignora que é. Que o despreze e o amordace o que vive no dia-a-dia animal. Mas quem teve a dádiva da evidência de si, como condenar-se a si ao silêncio prisional? Ninguém pode pagar, nada pode pagar a gratuitidade deste milagre de sermos. Que ao menos nós lhe demos, a isso que somos, a oportunidade de o sermos até ao fim. Gritar aos astros até enrouquecermos. Iluminarmos a brasa que vive em nós até nos consumirmos. Respondermos com a absoluta liberdade ao desafio do fantástico que nos habita. Somos cães, ratos, escaravelhos com consciência? Que essa consciência esgote até às fezes a nossa condição de escaravelhos.
Virgílio Ferreira, "Aparição"

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nao há dias perfeitos. Mas e o que dizer de meses imperfeitos?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Noite branca

http://lanocheenblanco.esmadrid.com/lanocheenblanco/

Na noite branca, Madrid encheu-se de luz, pessoas e cultura. Vi Madrid amanhecer...

Instantes

A vida é feita de instantes que nem sempre vivemos como quem teme perde-los. E a verdade é que nao passam de partículas instáveis que nao conseguimos agarrar, só os podemos viver no momento.
Por isto devemos amar mais, dize-lo mais vezes, brincar mais, abraçar mais vezes, correr riscos, nao ter vergonha de errar, ficar acordado até mais tarde com um livro, rir até doer e nunca, nunca abdicar do amor. Nunca se sabe quando se apagará a luz num túnel.

L'oreja de Van Gogh - Jueves 11 de Marzo

Si fuera más guapa y un poco más lista
Si fuera especial, si fuera de revista
Tendría el valor de cruzar el vagón
De preguntarte quien eres
Te sientas enfrente y ni te imaginas
Que llevo por ti mi falda más bonita
Y al verte lanzar un bostezo al cristal
Se inundan mis pupilas
De pronto me miras, te miro y suspiras
Yo cierro los ojos tu apartas la vista
Apenas respiro, me hago pequeñita
Y me pongo a temblar.
Y así pasan los días, de lunes a viernes
Como las golondrinas del poema de Bécquer
De estación a estación, de frente tú y yo
va y viene el silencio.
De pronto me miras, te miro y suspiras
Yo cierro los ojos tu apartas la vista
Apenas respiro, me hago pequeñita
Y me pongo a temblar.
Y entonces ocurre, despiertan mis labios
Pronuncian tu nombre tartamudeando
Supongo que piensas: que chica más tonta
Y me quiero morir
Pero el tiempo se para y te acercas diciendo:
yo no te conozco y ya te echaba de menos
Cada mañana rechazo el directo Y elijo este tren
Y ya estamos llegando, mi vida ha cambiado
Un día especial este 11 de Marzo
Me tomas la mano, llegamos a un túnel
Que apaga la luz
Te encuentro la cara gracias a mis manos
Me vuelvo valiente y te beso en los labios
Dices que me quieres y yo te regalo
el último soplo de mi corazón.
Para ver o vídeo:

domingo, 13 de setembro de 2009

Para a Lassuta

O gato dos sonhos envia um beijinho à Lassuta por ser tão boa guardadora e executante de sonhos.






"Se um tanto de sonho é perigoso, não é menos sonho que há-de curá-lo, e sim mais sonho, todo o sonho. É preciso conhecer totalmente os nossos sonhos, para não sofrermos mais com eles."
Marcel Proust



Sonhei uma destas noites que me tinham roubado os sonhos. Acordei e não estavam lá. Não havia sinal dos sonhos, nem da caixinha de madeira onde os guardava. Tão pouco tinha qualquer lembrança de algum sonho que alguma vez tivesse tido enquanto dormia, ou mesmo daqueles sonhos de olhos abertos a que chamava pedacinhos de amanhã. Nada! O que faria eu agora do meu tempo sem sonhos? Quem me poderia devolver pelo menos um para continuar a deitar-me numa nuvem até que a manhã chegasse?
Segui um gato amarelo que me olhava com altivez. Quando lhe perguntei pela caixa dos sonhos, riu-se da minha aflição e pôs-se a dormir. Esperei até ao entardecer que o gato amarelo acordasse e me dissesse o que fazer. Eu tinha a certeza que o gato amarelo sabia onde estavam os meu sonhos. E ele sabia. Demorou a espreguiçar-se e depois lá me respondeu que me tinha tirado os sonhos e que estavam trancados no hotel do tempo perdido. Porquê? perguntei indignada? Os sonhos eram meus, deviam ficar onde estavam.

Não podes guardar sonhos para depois te esqueceres deles. O gato falou e mostrou-me a porta que trancava os sonhos dos que haviam esquecido que havia tempo e disse-me que os sonhos também sofriam quando eram esquecidos. Vi todos os sonhos que eu tinha abandonado e que agora estavam no hotel do tempo perdido.

Podes vir buscá-los -disse-me o gato- mas para isso tens de lhes devolver o tempo perdido.



segunda-feira, 29 de junho de 2009

Há Momentos

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

Clarice Lispector

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Chambao y Bebe

mais música espanhola: bebe

Século XXI - América Latina



Escritor Mario Vargas Llosa é retido em aeroporto na Venezuela
Peruano afirma que foi advertido que, por ser estrangeiro, 'não tinha direito a fazer declarações políticas'



Vargas Llosa fala à imprensa após incidente
CARACAS - O escritor peruano Mario Vargas Llosa ficou retido nesta quarta-feira, 27, durante 90 minutos pelas autoridades de um aeroporto da Venezuela, aonde chegou para participar entre quinta e sexta-feira de um fórum sobre liberdade e propriedade privada, informa a imprensa local. Vargas Llosa chegou às 13h30 (15h, Brasília) ao aeroporto internacional de Maiquetía, perto de Caracas, procedente da Colômbia e acompanhado de sua mulher. Segundo disseram à Agência Efe fontes organização do fórum, o escritor ficou retido por cerca de uma hora e meia.


Em declarações a jornalistas no aeroporto após o ocorrido, o escritor disse que um funcionário advertiu que por ser um estrangeiro "não tinha direito a fazer declarações políticas" na Venezuela. "Ele me disse com muita amabilidade e eu respondi que estando na terra de Bolívar (...) não deveriam ser impostas dificuldades ao livre pensamento", relatou Vargas Llosa, em meio a um alvoroço da imprensa em sua saída do aeroporto.



Segundo Vargas Llosa, sua bagagem foi submetida a "uma revista muito minuciosa". Em tom irônico, o escritor disse que não foi encontrado "nada de contrabando, material subversivo ou explosivo", apenas os livros de poesia que levava. O escritor contou que a polícia venezuelana ofereceu escolta até o hotel, mas que a rejeitou com o argumento de que não temia por sua segurança por ter muitos amigos na Venezuela.



Vargas Llosa foi por conta própria ao hotel de Caracas onde permanecerá durante sua estadia na Venezuela e não deu declarações ao chegar no local. Álvaro Vargas Llosa, filho do escritor, também ficou retido durante várias horas pelas autoridades aeroportuárias na segunda-feira passada, quando chegou à Venezuela para participar do mesmo fórum. O intelectual peruano disse, então, que foi advertido de que não deveria opinar sobre assuntos políticos internos por ser um visitante estrangeiro.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Faleceu hoje o escritor uruguaio, Mário Benedetti. O escritor, poeta e ensaísta, considerado um autor do primeiro plano da literatura latino-americana contemporânea, deixa uma vasta obra. Aqui fica a minha homenagem.



Pasatiempo
Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía.

Luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque un océano
la muerte solamente
una palabra.

Ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros.

Ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.

domingo, 17 de maio de 2009

Domingo das ilusões reinventadas

(imagens Google)

O mundo é uma ilusão que tem de ser reinventada todos os dias.
Paul Auster

quinta-feira, 23 de abril de 2009

La noche de los libros



Hoje Madrid é dos livros até à meia-noite. Por toda a cidade há actividades, leituras, tertúlias, livrarias abertas fora de horas, conferências, bancas pelas ruas e sei lá o que mais. Na televisão toda a gente recomenda livros e comenta o livro da sua vida. Enquanto decido qual é o meu livro preferido deixo a pergunta, qual é o teu? Que livros recomendas?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Antony And The Johnsons again...

The Lake The Lake Ep Edgar Allen Poe

In youth's spring, it was my lot
To haunt of the wide earth a spot
To which I could not love the less
So lovely was the loneliness
Of a wild lake, with black rock bound
And the tall trees that towered around

But when the night had thrown her pall
Upon that spot as upon all
And the wind would pass me by
In its stilly melody

My infant spirit would awake
To the terror of the lone lake
My infant spirit would awake
To the terror of the lone lake

Yet that terror was not fright
But a tremulous delight
And a feeling undefined
Springing from a darkened mind
Death was in that poisoned wave
And in its gulf a fitting grave
For him who thence could solace bring
To his dark imagining
Whose wildering though could even make
An Eden of that dim lake

But when the night had thrown her pall
Upon that spot as upon all
And the wind would pass me by
In its stilly melody

My infant spirit would awake
To the terror of the lone lake
My infant spirit would awake
To the terror of the lone lake

Springing from a darkened mind
So lovely was the loneliness
In youth's spring, it was my lot
In its stilly melody
An Eden of that dim lake
An Eden of that dim lake
Lone, lone, lonely...

Para ouvir:
http://www.youtube.com/watch?v=JJVMnKKwe6A

terça-feira, 21 de abril de 2009

A Psalm of Life

WHAT THE HEART OF THE YOUNG MAN SAID TO THE PSALMIST.

Tell me not, in mournful numbers,
Life is but an empty dream!
For the soul is dead that slumbers,
And things are not what they seem.

Life is real! Life is earnest!
And the grave is not its goal;
Dust thou art, to dust returnest,
Was not spoken of the soul.

Not enjoyment, and not sorrow,
Is our destined end or way;
But to act, that each to-morrow
Find us farther than to-day.

Art is long, and Time is fleeting,
And our hearts, though stout and brave,
Still, like muffled drums, are beating
Funeral marches to the grave.

In the world's broad field of battle,
In the bivouac of Life,
Be not like dumb, driven cattle!
Be a hero in the strife!

Trust no Future, howe'er pleasant!
Let the dead Past bury its dead!
Act,--act in the living Present!
Heart within, and God o'erhead!

Lives of great men all remind us
We can make our lives sublime,
And, departing, leave behind us
Footprints on the sands of time;--

Footprints, that perhaps another,
Sailing o'er life's solemn main,
A forlorn and shipwrecked brother,
Seeing, shall take heart again.

Let us, then, be up and doing,
With a heart for any fate;
Still achieving, still pursuing,
Learn to labor and to wait.

Poem by Henry Wadsworth Longfellow

Child of God

terça-feira, 7 de abril de 2009

Fairwell

(Lord Leighton)


We Never Said Farewell by Mary Elizabeth Coleridge

WE never said farewell, nor even looked
Our last upon each other, for no sign
Was made when we the linkèd chain unhooked
And broke the level line.

And here we dwell together, side by side,
Our places fixed for life upon the chart.
Two islands that the roaring seas divide
Are not more far apart.

quarta-feira, 25 de março de 2009

A música espanhola

Si te arrancan al niño que llevamos por dentro
si te quitan la teta y te cambian de cuento
no te tragues la pena porque no estamos muertos
llegaremos a tiempo, llegaremos a tiempo

Si te anclaran las alas en el muelle del viento
yo te espero a un segundo en la orilla del tiempo
llegaras cuando vayas mas allá del intento
llegaremos a tiempo, llegaremos a tiempo

Si te abrazan las paredes
desabrocha el corazón
no permitas que te anuden la respiración
No te quedes aguardando
a que pinte la ocasión
que la vida son dos trazos y un borrón

Tengo miedo que se rompa la esperanza
que la libertad se quede sin alas
tengo miedo que haya un día sin mañana
Tengo miedo de que el miedo
eche un pulso y pueda mas
no te rindas, no te sientes a esperar
Si robaran el mapa del país de los sueños
siempre queda el camino que te late por dentro
si te caes te levantas, si te arrimas te espero
llegaremos a tiempo, llegaremos a tiempo

Mejor lento que parado
desabrocha el corazón
no permitas que te anuden la imaginación
No te quedes aguardando
a que pinte la ocasión
que la vida son dos trazos y un borrón

Tengo miedo que se rompa la esperanza...

Solo pueden contigo si te acabas rindiendo
si disparan por fuera y te matan por dentro
Llegaras cuando vayas mas allá del intento

Desconheço o nome da letra mas a artista é a Rosana que surpreendeu a minha resistência à música espanhola. Ouvi-a pela primeira vez na casa da família espanhola onde vivi um mês e há várias músicas da senhora que me agradam. É suposto ser muito conhecida mas para mim é novidade. Aqui fica a letra de uma dessas músicas que me caem bem :)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Meditation

“Meditation brings wisdom; lack of mediation leaves ignorance. Know well what leads you forward and what hold you back, and choose the path that leads to wisdom.”
Siddharta

domingo, 22 de fevereiro de 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Até parece que já o vejo...

(foto:google)
O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.

Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"I'm throwing my arms around Paris"- Morrissey

Foto tirada para o novo álbum Years of Refusal. Ousado ou patético? Eu nao consigo evitar um sorriso de aprovacao hesitante.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Francis Bacon no Prado


"Não há beleza perfeita que não contenha algo de estranho nas suas proporções."
Francis Bacon

Um bom pretexto para dar um saltinho a Madrid!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Subversão


“There are no signposts in the sea.”

Vita Sackville-West

waiting


One always has to wait until the sugar melts, the memory dies, the wound scars over, the sun sets, the unhappiness lifts and fades away.

Simone de Beauvoir


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Olhar para si

(novasinapse.com)

"Amanhã não serás. Toda a gente sabe isso, menos tu. Vê se o aprendes. Mas tentar aprender a morte é o modo mais perfeito de tentar aprender a vida. Porque tu, como quase toda a gente, não sabes a vida ou sabe-la de cor. É na doença que se aprende a saúde, é na miséria que se sabe o bem-estar. Não sabes a vida porque não imaginas a sua privação. Vê se consegues ter uma ideia da morte e saberás a maravilha que te coube, que tiveste a sorte incrível de te caber. Mas se aprenderes a vida, saberás que ela é maravilhosa para além de ti. Quando morreres, morrerá o universo contigo. Mas agora que estás vivo, sabes que o universo continua. Obriga-te agora a sabê-lo para quando o não souberes. A espécie humana és tu, porque é em ti que ela se concentra no acto de o pensares. Aproveita enquanto o sabes, para saberes que a espécie é a de cada homem, quando já não existires. Faz assim um esforço para te pensares nos outros, quando já não puderes pensar-te a ti. A vida é um bem de que não sabes bem o que é. Ela está em ti como tu estás nela. Quando já não estiveres, haverá outros que estão. Vê se consegues pensar neles agora um pouco também. Pensa nesse bem, que é maior do que tu, e vê se sabes o que o é, para ele ser para ti ainda um bem quando já o não for. Há biliões e biliões de homens que estão à espera no não-ser da oportunidade de serem. E saberás da tua imensa responsabilidade na passagem do testemunho aos que hão-de ser amanhã. E a vida recuperará através de ti a maravilha de ser vida nos que à vida hão-de vir depois de ti. Aproveita a vida para o pensares, porque depois já o não poderás fazer. Foste miraculosamente favorecido no inimaginável acaso que te trouxe. É a vida que deves aos que vierem, porque ela não é tua, mas de si e dos outros. Eles a esperam das tuas mãos. É feio que te apropries do que te não pertence. É feio o pecado da ingratidão."



Vergílio Ferreira,in Pensar




terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A minha amiga Telma


Quem me conhece sabe que não sou apaixonada por animais. Tive um cão por pouco tempo na infância e uns peixes, uns anos mais tarde, mas que viriam a morrer rápido. Cresci assim, pouco ligada a animais e com uma incapacidade de criar laços com o mundo animal.

Quase todas as pessoas que conheço têm gatos, cães, pássaros ou peixes e não compreendem a minha indiferença quando tenho um animal por perto. Não sei explicar, gosto de os olhar, acho-os engraçados mas não suporto que me toquem e fazer-lhes festas arrepia-me. Se isto faz de mim um ser humano insensível, não sei. Só sei que é assim.


Nada disto seria relevante se não houvesse um facto inédito a apontar: há uma cadela na minha vida. Chama-se Telma, é calmíssima e fofinha e, como se não bastasse, desenvolveu o hábito de me fazer companhia. Quando chego a casa, ela começa a perseguir-me discretamente e senta-se perto de mim. Apesar da franja comprida eu sei que me observa enquanto como, trabalho ao computador ou fumo um cigarro. Como é que se resiste a uma bolinha de pêlo assim?

sábado, 10 de janeiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Neve em Madrid




Amanheceu assim. Olhei pela janela e foi o que vi...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Detalhes urbanos

(foto:labirinto)


Caprichos



(fotos:labirinto)

Paths

(foto:labirinto)

"One never reaches home, but wherever friendly paths intersect the whole world looks like home for a time."
Herman Hesse

sábado, 3 de janeiro de 2009

Enigma

(Infinite Enigma by Dalí)

I have come to believe that the whole world is an enigma, a harmless enigma that is made terrible by our own mad attempt to interpret it as though it had an underlying truth.
Umberto Eco

Impressões

Viver num país diferente do nosso obriga-nos a repensar desde as coisas grandes até aos pequenos detalhes do dia-a-dia. Por coisas grandes entenda-se a nossa identidade, o valor dos afectos, o valor do conhecimento e das experiências, o despertar do olhar e das emoções, que quase se adormecem na presença do que é familiar e a importância daquilo e daqueles que estão ausentes. Os pequenos detalhes começam quando não se pode pedir um café sem que nos tragam uma meia de leite, e um café com uma água com gás torna-se a tal meia-de-leite acompanhada de uma garrafa de meio litro de água com gás, normalmente Vichy. Não, aqui não se pede café e Pedras. Pedi eu mas paguei 5 euros.
Há muitos entraves linguísticos para uma portuguesa a viver em Madrid e os “false friends” são os meus principais inimigos. A mania de que qualquer Português que acrescente um “i” a todas as palavras está a falar espanhol e se consegue fazer entender, é um mito. O que é uma “mierda”. Neste caso o “i” está bem metido. Mas os madrilenos estão habituados a estrangeiros que maltratam a língua e chegam a ser simpáticos, ou condescendentes, e a fazer um esforço para entender.

De irmãos não temos quase nada, mas em Madrid é fácil sentirmo-nos um primo afastado bem recebido numas férias de Verão. Madrid é cosmopolita, agitada, cheia de contrastes e é muito difícil sentirmo-nos aborrecidos ou sem saber o que fazer. Em qualquer parte da cidade, a quase toda a hora, há sempre alguma coisa a acontecer ou algum lugar para visitar. Apesar de trabalhar grande parte do dia, ainda sinto Madrid como turista e não largo o meu guia American Express onde quer que vá. Mas o que dá mesmo muito gozo é ignorar o guia, afastarmo-nos do roteiro turístico e perdermo-nos pelas ruas. Hoje, por acaso, encontrei uma livraria de livros em inglês usados. É de uns americanos que se instalaram há uns anos e combinam num espaço, um tanto degradado mas aconchegante, uma livraria com um bar de tapas que serve brownies. Pelo que vi, parece ser um oásis para onde convergem nativos de países anglófonos. Chama-se J&J e devo lá voltar.
Uma outra coisa que se descobre quando se vive num outro país, é que damos por nós a fazer coisas que nunca tínhamos feito. Hoje, por exemplo, comecei um intercâmbio com uma espanhola. Encontrámo-nos no café mais antigo de Madrid, onde muito da vida intelectual e artística parece ter acontecido, o “Café Comercial”, para trocarmos conhecimentos linguísticos. Eu ensino-lhe inglês e, em troca, a Laura ensina-me espanhol. Pobre coitada ficou com a pior parte. O nível de Inglês dela é bom e podemos falar de arte, literatura, trivialidades, quanto a mim, vamos começar com colher, garfo e afins. A ver… (com pronúncia espanhola)
Fico-me por aqui neste relato de experiências madrilenas. Mas volto.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

La Casa Azul

O primeiro dia do ano soou assim:

http://www.youtube.com/watch?v=DkratHNQRdI&feature=related

Obrigada Reboliço.

Ano Velho,Ano Novo



Desde que me lembro de existir que penso em 12 desejos enquanto soam as 12 míticas badaladas de entrada no novo ano. Tudo estaria bem se o ritual não envolvesse mastigar e engolir 12 uvas passas em breves segundos. Quando soa a última badalada, ainda estou a lutar com o sabor e a textura da terceira uva passa. Como todos sabem, depois da última badalada e sem uvas passas, os desejos não são aceites pela entidade responsável pelo registo e validação de desejos de fim de ano. Deste modo, há anos que desperdiço desejos que poderiam enriquecer-me, oferecer-me viagens, um emprego de sonho, saúde para todos, a relação perfeita, a imortalidade, enfim, todo um mundo de detalhes que fariam da minha vida um universo de equilibrio e perfeição. E eu sei que é tudo por causa das malditas uvas passas.

Foi preciso vir viver para Madrid para descobrir que há quem cumpra o mesmo ritual mas comendo deliciosas uvas frescas e suculentas. Agora sim, vou conseguir formular desejos sem maltratar as glândulas e os receptores de paladar. Não se admirem se ouvirem falar de mim por aí, porque este ano os meus desejos são arrojados e estou certa de que se irão cumprir. Para aqueles que não gostam de uvas passas nem de uvas frescas, recomendo uma pesquisa online. Estou certa de que haverá por aí quem o faça com pepitas de chocolate, amendoins, goles de champanhe ou outra coisa qualquer que vos agrade.

Com ou sem desejos formulados, um Ano Novo repleto de coisas bonitas.