domingo, 13 de setembro de 2009







"Se um tanto de sonho é perigoso, não é menos sonho que há-de curá-lo, e sim mais sonho, todo o sonho. É preciso conhecer totalmente os nossos sonhos, para não sofrermos mais com eles."
Marcel Proust



Sonhei uma destas noites que me tinham roubado os sonhos. Acordei e não estavam lá. Não havia sinal dos sonhos, nem da caixinha de madeira onde os guardava. Tão pouco tinha qualquer lembrança de algum sonho que alguma vez tivesse tido enquanto dormia, ou mesmo daqueles sonhos de olhos abertos a que chamava pedacinhos de amanhã. Nada! O que faria eu agora do meu tempo sem sonhos? Quem me poderia devolver pelo menos um para continuar a deitar-me numa nuvem até que a manhã chegasse?
Segui um gato amarelo que me olhava com altivez. Quando lhe perguntei pela caixa dos sonhos, riu-se da minha aflição e pôs-se a dormir. Esperei até ao entardecer que o gato amarelo acordasse e me dissesse o que fazer. Eu tinha a certeza que o gato amarelo sabia onde estavam os meu sonhos. E ele sabia. Demorou a espreguiçar-se e depois lá me respondeu que me tinha tirado os sonhos e que estavam trancados no hotel do tempo perdido. Porquê? perguntei indignada? Os sonhos eram meus, deviam ficar onde estavam.

Não podes guardar sonhos para depois te esqueceres deles. O gato falou e mostrou-me a porta que trancava os sonhos dos que haviam esquecido que havia tempo e disse-me que os sonhos também sofriam quando eram esquecidos. Vi todos os sonhos que eu tinha abandonado e que agora estavam no hotel do tempo perdido.

Podes vir buscá-los -disse-me o gato- mas para isso tens de lhes devolver o tempo perdido.



1 comentário:

ARTISTA MALDITO disse...

Por isso gosto tanto de ti, Virgínia. És a minha melhor amiga, a que reside no centro do meu coração. A que me conhece profundamente.

Virginie, és uma excelente contadora de histórias. Proust e o tempo perdido: o gato amarelo e os sonhos esquecidos: nunca os deixes para trás, persegue-os, alimenta-os.

Muito, muito obrigada:)))))

Uma beijoca,
Isabel