sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Subversão


“There are no signposts in the sea.”

Vita Sackville-West

waiting


One always has to wait until the sugar melts, the memory dies, the wound scars over, the sun sets, the unhappiness lifts and fades away.

Simone de Beauvoir


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Olhar para si

(novasinapse.com)

"Amanhã não serás. Toda a gente sabe isso, menos tu. Vê se o aprendes. Mas tentar aprender a morte é o modo mais perfeito de tentar aprender a vida. Porque tu, como quase toda a gente, não sabes a vida ou sabe-la de cor. É na doença que se aprende a saúde, é na miséria que se sabe o bem-estar. Não sabes a vida porque não imaginas a sua privação. Vê se consegues ter uma ideia da morte e saberás a maravilha que te coube, que tiveste a sorte incrível de te caber. Mas se aprenderes a vida, saberás que ela é maravilhosa para além de ti. Quando morreres, morrerá o universo contigo. Mas agora que estás vivo, sabes que o universo continua. Obriga-te agora a sabê-lo para quando o não souberes. A espécie humana és tu, porque é em ti que ela se concentra no acto de o pensares. Aproveita enquanto o sabes, para saberes que a espécie é a de cada homem, quando já não existires. Faz assim um esforço para te pensares nos outros, quando já não puderes pensar-te a ti. A vida é um bem de que não sabes bem o que é. Ela está em ti como tu estás nela. Quando já não estiveres, haverá outros que estão. Vê se consegues pensar neles agora um pouco também. Pensa nesse bem, que é maior do que tu, e vê se sabes o que o é, para ele ser para ti ainda um bem quando já o não for. Há biliões e biliões de homens que estão à espera no não-ser da oportunidade de serem. E saberás da tua imensa responsabilidade na passagem do testemunho aos que hão-de ser amanhã. E a vida recuperará através de ti a maravilha de ser vida nos que à vida hão-de vir depois de ti. Aproveita a vida para o pensares, porque depois já o não poderás fazer. Foste miraculosamente favorecido no inimaginável acaso que te trouxe. É a vida que deves aos que vierem, porque ela não é tua, mas de si e dos outros. Eles a esperam das tuas mãos. É feio que te apropries do que te não pertence. É feio o pecado da ingratidão."



Vergílio Ferreira,in Pensar




terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A minha amiga Telma


Quem me conhece sabe que não sou apaixonada por animais. Tive um cão por pouco tempo na infância e uns peixes, uns anos mais tarde, mas que viriam a morrer rápido. Cresci assim, pouco ligada a animais e com uma incapacidade de criar laços com o mundo animal.

Quase todas as pessoas que conheço têm gatos, cães, pássaros ou peixes e não compreendem a minha indiferença quando tenho um animal por perto. Não sei explicar, gosto de os olhar, acho-os engraçados mas não suporto que me toquem e fazer-lhes festas arrepia-me. Se isto faz de mim um ser humano insensível, não sei. Só sei que é assim.


Nada disto seria relevante se não houvesse um facto inédito a apontar: há uma cadela na minha vida. Chama-se Telma, é calmíssima e fofinha e, como se não bastasse, desenvolveu o hábito de me fazer companhia. Quando chego a casa, ela começa a perseguir-me discretamente e senta-se perto de mim. Apesar da franja comprida eu sei que me observa enquanto como, trabalho ao computador ou fumo um cigarro. Como é que se resiste a uma bolinha de pêlo assim?

sábado, 10 de janeiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Neve em Madrid




Amanheceu assim. Olhei pela janela e foi o que vi...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Detalhes urbanos

(foto:labirinto)


Caprichos



(fotos:labirinto)

Paths

(foto:labirinto)

"One never reaches home, but wherever friendly paths intersect the whole world looks like home for a time."
Herman Hesse

sábado, 3 de janeiro de 2009

Enigma

(Infinite Enigma by Dalí)

I have come to believe that the whole world is an enigma, a harmless enigma that is made terrible by our own mad attempt to interpret it as though it had an underlying truth.
Umberto Eco

Impressões

Viver num país diferente do nosso obriga-nos a repensar desde as coisas grandes até aos pequenos detalhes do dia-a-dia. Por coisas grandes entenda-se a nossa identidade, o valor dos afectos, o valor do conhecimento e das experiências, o despertar do olhar e das emoções, que quase se adormecem na presença do que é familiar e a importância daquilo e daqueles que estão ausentes. Os pequenos detalhes começam quando não se pode pedir um café sem que nos tragam uma meia de leite, e um café com uma água com gás torna-se a tal meia-de-leite acompanhada de uma garrafa de meio litro de água com gás, normalmente Vichy. Não, aqui não se pede café e Pedras. Pedi eu mas paguei 5 euros.
Há muitos entraves linguísticos para uma portuguesa a viver em Madrid e os “false friends” são os meus principais inimigos. A mania de que qualquer Português que acrescente um “i” a todas as palavras está a falar espanhol e se consegue fazer entender, é um mito. O que é uma “mierda”. Neste caso o “i” está bem metido. Mas os madrilenos estão habituados a estrangeiros que maltratam a língua e chegam a ser simpáticos, ou condescendentes, e a fazer um esforço para entender.

De irmãos não temos quase nada, mas em Madrid é fácil sentirmo-nos um primo afastado bem recebido numas férias de Verão. Madrid é cosmopolita, agitada, cheia de contrastes e é muito difícil sentirmo-nos aborrecidos ou sem saber o que fazer. Em qualquer parte da cidade, a quase toda a hora, há sempre alguma coisa a acontecer ou algum lugar para visitar. Apesar de trabalhar grande parte do dia, ainda sinto Madrid como turista e não largo o meu guia American Express onde quer que vá. Mas o que dá mesmo muito gozo é ignorar o guia, afastarmo-nos do roteiro turístico e perdermo-nos pelas ruas. Hoje, por acaso, encontrei uma livraria de livros em inglês usados. É de uns americanos que se instalaram há uns anos e combinam num espaço, um tanto degradado mas aconchegante, uma livraria com um bar de tapas que serve brownies. Pelo que vi, parece ser um oásis para onde convergem nativos de países anglófonos. Chama-se J&J e devo lá voltar.
Uma outra coisa que se descobre quando se vive num outro país, é que damos por nós a fazer coisas que nunca tínhamos feito. Hoje, por exemplo, comecei um intercâmbio com uma espanhola. Encontrámo-nos no café mais antigo de Madrid, onde muito da vida intelectual e artística parece ter acontecido, o “Café Comercial”, para trocarmos conhecimentos linguísticos. Eu ensino-lhe inglês e, em troca, a Laura ensina-me espanhol. Pobre coitada ficou com a pior parte. O nível de Inglês dela é bom e podemos falar de arte, literatura, trivialidades, quanto a mim, vamos começar com colher, garfo e afins. A ver… (com pronúncia espanhola)
Fico-me por aqui neste relato de experiências madrilenas. Mas volto.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

La Casa Azul

O primeiro dia do ano soou assim:

http://www.youtube.com/watch?v=DkratHNQRdI&feature=related

Obrigada Reboliço.

Ano Velho,Ano Novo



Desde que me lembro de existir que penso em 12 desejos enquanto soam as 12 míticas badaladas de entrada no novo ano. Tudo estaria bem se o ritual não envolvesse mastigar e engolir 12 uvas passas em breves segundos. Quando soa a última badalada, ainda estou a lutar com o sabor e a textura da terceira uva passa. Como todos sabem, depois da última badalada e sem uvas passas, os desejos não são aceites pela entidade responsável pelo registo e validação de desejos de fim de ano. Deste modo, há anos que desperdiço desejos que poderiam enriquecer-me, oferecer-me viagens, um emprego de sonho, saúde para todos, a relação perfeita, a imortalidade, enfim, todo um mundo de detalhes que fariam da minha vida um universo de equilibrio e perfeição. E eu sei que é tudo por causa das malditas uvas passas.

Foi preciso vir viver para Madrid para descobrir que há quem cumpra o mesmo ritual mas comendo deliciosas uvas frescas e suculentas. Agora sim, vou conseguir formular desejos sem maltratar as glândulas e os receptores de paladar. Não se admirem se ouvirem falar de mim por aí, porque este ano os meus desejos são arrojados e estou certa de que se irão cumprir. Para aqueles que não gostam de uvas passas nem de uvas frescas, recomendo uma pesquisa online. Estou certa de que haverá por aí quem o faça com pepitas de chocolate, amendoins, goles de champanhe ou outra coisa qualquer que vos agrade.

Com ou sem desejos formulados, um Ano Novo repleto de coisas bonitas.