sábado, 9 de agosto de 2014

Melancolia

A vida amanheceu melancólica. Pela janela, um sopro teimoso impõe-te na cara a brisa matinal de um verão tímido e sonolento, como tu. Que dia é hoje? Sei lá! É mais uma manhã qualquer desta peregrinação de sentido improvisado. Lá fora, ouve-se o bulício inquieto do milheiral. As canas agitam-se, numa dança involuntária, ao capricho do vento. Do outro lado, pressente-se o azul altivo do mar. Severo e emproado, invade-me o olhar com uma vida que se me escapa. A manhã nasceu melancólica em mim. Ouço mas não entendo as vozes dos que me falam. Vejo-os mas estranho-os na sua comparência acidental na minha vida. Pressinto em cada ausência e cada silêncio breve a liberdade que me devolverá a mim. Esta paz fugidia e efémera, tantas vezes a minha única linguagem, é a minha essência e o meu martírio.

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