sábado, 9 de agosto de 2014

Cansaço

Estou cansado, é claro, Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. De que estou cansado, não sei: De nada me serviria sabê-lo, Pois o cansaço fica na mesma. A ferida dói como dói E não em função da causa que a produziu. Sim, estou cansado, E um pouco sorridente De o cansaço ser só isto — Uma vontade de sono no corpo, Um desejo de não pensar na alma, E por cima de tudo uma transparência lúcida Do entendimento retrospectivo... E a luxúria única de não ter já esperanças? Sou inteligente: eis tudo. Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, E há um certo prazer até no cansaço que isto me dá, Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa. álvaro de campos

quarta-feira, 5 de março de 2014

Regresso ao labirinto

“The most spiritual men, as the strongest, find their happiness where others would find their destruction: in the labyrinth, in hardness against themselves and others, in experiments. Their joy is self-conquest: asceticism becomes in them nature, need, and instinct. Difficult tasks are a privilege to them; to play with burdens that crush others, a recreation. Knowledge-a form of asceticism. They are the most venerable kind of man: that does not preclude their being the most cheerful and the kindliest. ” ― Friedrich Nietzsche .

sábado, 22 de janeiro de 2011

A memória

A memória é essa claridade fictícia das sobreposições que se anulam. O significado é essa espécie de mapa das interpretações que se cruzam como cicatrizes de sucessivas pancadas. Os nossos sentimentos. A intensidade do sentir é intolerável. Do sentir ao sentido do sentido ao significado: o que resta é impacto que substitui impacto - eis a invenção.

Ana Hatherly, in 'A Cidade das Palavras'