Quem já desceu o Lima ou o Douro num dia cinzento de Inverno saberá do que falo. O Minho reserva surpresas até a quem lá cresceu, o que não é o meu caso. Entre aldeias e quintas, vilas e vilarejos, cais de pequenas embarcações convidam a fazermo-nos ao rio, a penetrar na neblina e a deambular entre a vegetação que se ergue, ao fundo, melancólica.
Hoje desci o Lima devagar, não como quem passeia ou como quem simplesmente passa, mas como quem está e se perde. Algumas das imagens que o rio generosamente me ofereceu não cabem no olhar mas enchem a memória e a alma de um travo bucólico que perdurará.
Quase a chegar a Viana, numa terra simpática de nome Carreço, encontramos o recanto onde o escritor Ruben A. decidiu ser sepultado, não obstante ter vivido e trabalhado em Inglaterra muitos anos. Apesar de adormecido sob um manto simples de granito coberto de pedrinhas cinzentas, pedacinhos de mar que se ouve e cheira ali tão perto, Ruben A. permanece na sua obra.
Quase a chegar a Viana, numa terra simpática de nome Carreço, encontramos o recanto onde o escritor Ruben A. decidiu ser sepultado, não obstante ter vivido e trabalhado em Inglaterra muitos anos. Apesar de adormecido sob um manto simples de granito coberto de pedrinhas cinzentas, pedacinhos de mar que se ouve e cheira ali tão perto, Ruben A. permanece na sua obra.
Presto a minha simples homenagem a um homem simples que encontrei num dia melancólico, sem pressas, ânsias ou necessidade de anular o espaço/tempo entre um instante e outro, entre um pensamento e o seguinte.
"A ânsia de matar tempo, de liquidar o espaço de dias entre um acontecimento e o que lhe sucede, transmite, tanto em casos de amor como em outros, fins importantes, um estado de alma que se preocupa exclusivamente em atingir esse alvo previamente estabelecido. Não se pensa em mais nada. Semelhante à situação criada quando se sabe de antemão que se vai encontrar determinada pessoa que nos interessa muito. Fica-se incapaz de articular palavra, de estreitar vínculo com quem quer que seja que se nos atravesse no caminho. Está-se a viver em outrem, num estado fora da relação humana do dia a dia. Nem sequer ouvimos os sons, arrepiamos a pele ao tomar conhecimento consciente de notícias que já sabíamos de antemão pertencerem ao domínio público. Esta é também a ânsia do suicida que nada mais faz entre a decisão de cometer o homicídio e a prática do acto extremo. "
Ruben A., in "O Mundo À Minha Procura I"
Para ler outros textos do autor:
http://www.citador.pt/pensar.php?pensamentos=Ruben_A_&op=7&author=1144
1 comentário:
VIRGÍNIA OLÁ
Que agradável surpresa e não só, no texto está tudo dito, está lá a paisagem do Alto Minho, a memória de um escritor excepcional e que eu venero.
Que em cada viagem procuremos sempre esse mundo, n'"O Mundo À Minha Procura" de Ruben A., com o som das ondas ao fundo.
Beijinhos,
Isabel
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